Uma mudança necessária
Produtos cosméticos são muito procurados por brasileiros. De acordo com o panorama de 2019 divulgado pela ABIHPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos), o Brasil é o quarto país no ranking de maiores consumidores de produtos de beleza e higiene, perdendo apenas para Estados Unidos, China e Japão. Além de ter movimentado cerca de US$ 29,6 bilhões na economia brasileira em 2019, o setor teve crescimento de 4,2% comparado ao ano anterior e exporta produtos para 174 países.
Se por um lado essa indústria movimenta números expressivos, por outro lado há uma constante preocupação sobre como essa força econômica crescente pode impactar o meio ambiente. Estima-se que a produção de cosméticos convencionais utiliza mais de 10 mil substâncias químicas em seus processos, os chamados POP’s (Poluentes Orgânicos Persistentes), que demoram muito tempo para se decompor e podem se acumular no organismo humano. Para deixar o cabelo com um toque sedoso e brilhante ou a pele aveludada, produtos como shampoo e sabonete possuem derivados de petróleo, que nada mais são que plástico em forma líquida.
Outro produto que possui componentes nocivos é o esfoliante de rosto ou corporal. Esses cosméticos prometem uma limpeza profunda da pele, removendo as células mortas e sujeira, deixando-a mais macia e uniforme. Para obter esse efeito, é preciso que microesferas façam parte da composição. Microesferas são pequenas partículas de polietileno, medindo menos de 0,5 milímetros, que compõem esses e outros produtos de beleza e higiene.
Ao serem despejadas na rede de esgoto, elas podem ser destinadas à rios e oceanos e posteriormente serem ingeridas por animais aquáticos. Além do dano à vida marinha, as esferas podem ser consumidas pelas pessoas após a pesca dos peixes contaminados. Para termos noção, somente no Reino Unido são usadas mais de 680 toneladas dessas microesferas a cada ano.
Outras substâncias presentes em cosméticos como corantes, neutralizantes, ceras parafínicas e polímeros sintéticos também podem causar um significativo impacto ao meio ambiente.
Além dos componentes nocivos, existe um alto volume de resíduos oriundos das embalagens dos produtos que, se descartados indevidamente na natureza, ocasionam impactos negativos aos ecossistemas. Estima-se que todos os anos são produzidos no mundo 1,3 bilhões de toneladas de resíduos, sendo 78 milhões de toneladas só no Brasil de acordo com dados divulgados no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça. Até 2050, a previsão é que haja mais plástico nos oceanos do que peixe.
Para reverter esse cenário e atender às demandas do consumidor cada vez mais consciente, empresas cosméticas de todos os tamanhos estão revendo seus processos, considerando todos os possíveis impactos associados aos ciclos de vida de seus produtos, desde a fabricação até o destino final dos materiais após o consumo.
Dessa forma, são chamados cosméticos sustentáveis aqueles que foram desenvolvidos levando em consideração todos os impactos de seu ciclo de vida, optando-se assim por alternativas que minimizem tais impactos. Além de possuírem a característica eco-friendly (amigável ao meio ambiente), podem dispor de atributos como Cruelty Free (não testado em animais) e Paraben Free (não contém Parabeno, ingrediente cancerígeno).
Como desenvolver cosméticos sustentáveis
Existem algumas ações que uma empresa pode adotar para diminuir os impactos causados pelos seus produtos e alinhá-los ao conceito de cosméticos sustentáveis.
Já falamos aqui no Blog Crédito de Logística Reversa sobre logística reversa de embalagens, que aparece como uma boa alternativa. É necessário uma sistemática de retorno da embalagem após o cumprimento de sua função, impedindo assim os impactos nocivos de seu descarte incorreto. A logística reversa representa exatamente as ações de recuperação dos produtos e seus resíduos após o consumo dos clientes para reaproveitamento em novos ciclos produtivos, como a reciclagem, ou para oferecer outra destinação final ambientalmente adequada.
A adoção de embalagens inovadoras levando em conta o ecodesign também é outra boa alternativa. Ecodesign, segundo o MMA, tem por objetivo principal projetar ambientes, desenvolver produtos e executar serviços que irão reduzir o uso dos recursos não-renováveis ou minimizar o impacto ambiental durante seu ciclo de vida. Isto significa, inclusive, reduzir a geração de resíduo e economizar custos de disposição final.
Pensando desta forma, podemos destacar a utilização de materiais como bioplásticos, que são similares ao plástico e possuem fontes renováveis de matéria-prima, como a mandioca e cana-de-açúcar, ou vidros, que são 100% recicláveis. O refil de produto também é uma boa alternativa. A empresa Natura vem evitando o descarte de 2.400 toneladas de resíduos com essa técnica, o que equivale ao lixo gerado diariamente por mais de 4,4 milhões de pessoas.
A escolha por componentes naturais e orgânicos também é uma forma de tornar os cosméticos mais sustentáveis - e ainda pode ser mais lucrativo. Segundo a The Benchmarking Company, 68% das mulheres americanas preferem comprar produtos de beleza naturais e orgânicos. Seguindo essa linha, a Johnson & Johnson, empresa considerada a segunda mais sustentável do mundo em 2016, lançou a linha de cosméticos Neutrogena Naturals, que traz vários itens produzidos com ingredientes naturais e sem a presença de substâncias químicas.
As condições de trabalho das empresas fornecedoras também é outro ponto importante a se observar. Segundo a empresa Verisk Maplecroft Research, os ingredientes cosméticos que apresentam os riscos sociais mais elevados são manteiga de karité, seda, baunilha e cacau, cujo manejo pode envolver tráfico de pessoas, trabalho infantil, discriminação e grilagem. Adquirir matéria-prima de origem confiável e certificada é importante para que riscos como esses sejam minimizados ao máximo.
Tendência fora e dentro do Brasil
Quando uma empresa opta por mudar o seu processo de produção, tornando-o mais sustentável, ela contribui positivamente para a sociedade e traz benefícios para si mesma. Já falamos anteriormente de algumas dessas vantagens, quando abordamos o Índice de Sustentabilidade Empresarial.
Saudabilidade e sustentabilidade estão no topo da lista de interesses de cerca de 32% dos brasileiros, de acordo com o estudo Green is The New Black, realizado pela Nielsen Brasil (empresa de pesquisa de informação de mercado). Ser sustentável sai apenas do discurso e se torna cada vez mais um fator de decisão no momento de compra para o consumidor brasileiro.
Segundo dados apresentados no Caderno de Tendências 2019-2020, elaborado pelo Sebrae em parceria com a ABIHPEC, 73% dos consumidores estão dispostos a pagar mais por marcas sustentáveis. Segundo a associação, o que antes era uma tendência fora do país, hoje vem ganhando cada vez mais força no mercado nacional. Sendo assim, além de uma necessidade, os cosméticos sustentáveis se tornam uma tendência de consumo dentro do Brasil.
E aí, curtiu o texto? Agora que você entendeu o que são cosméticos sustentáveis e como sua empresa, seja qual for o tamanho, pode contribuir positivamente para o meio ambiente, conheça mais uma dessas soluções baixando nosso ebook gratuito “11 Perguntas e Respostas para entender a Logística Reversa”.
Fontes
G1 - Cosméticos sustentáveis: conheça os desafios dessa indústria para diminuir impactos ambientais
GreenMe - Os impactos da nossa beleza para o meio ambiente
Público - Cosméticos sustentáveis: o que são e como escolher?
Just For You - Cabelos sustentáveis: a tendência na busca por produtos “conscientes”
Sebrae - Tendência do setor de higiene pessoal, perfumaria e cosmético até 2020
Johnson & Johnson - Pilares da Sustentabilidade J&J
Natura - Como diminuir o impacto ambiental usando refis de cosméticos
Natura - Cosméticos Sustentáveis começam pela embalagem
Focus Quimica - Polietileno: Microesferas causando macro problemas